Sinapse Nervosa e Neurotransmissores
A Sinapse Nervosa e os Neurotransmissores em Medicina Veterinária e Zootecnia
A comunicação entre os neurônios e entre estes e outras células é essencial para o funcionamento adequado do sistema nervoso. Esse processo é mediado por estruturas especializadas chamadas sinapses nervosas. Em medicina veterinária e zootecnia, o conhecimento detalhado sobre sinapses e neurotransmissores é fundamental para compreender diversas condições clínicas e aplicar terapias eficazes.
Fisiologia da Sinapse Nervosa
As sinapses podem ser classificadas como químicas ou elétricas. Nas sinapses químicas, que predominam em mamíferos, a transmissão do impulso nervoso ocorre através da liberação de neurotransmissores na fenda sináptica. Esse processo pode ser resumido em:
Chegada do impulso nervoso: O potencial de ação atinge o terminal axônico.
Abertura de canais de cálcio dependentes de voltagem: A entrada de íons cálcio estimula a fusão das vesículas sinápticas com a membrana.
Liberação de neurotransmissores: Os neurotransmissores são liberados na fenda sináptica por exocitose.
Ligamento aos receptores pós-sinápticos: Eles ativam ou inibem a célula-alvo, dependendo do tipo de receptor.
Reabsorção ou degradação: Para evitar estimulação prolongada, os neurotransmissores são recapturados ou degradados enzimaticamente.
As sinapses elétricas, menos comuns, permitem a passagem direta de íons entre células adjacentes através de junções comunicantes.
Neurotransmissores
Os neurotransmissores são substâncias químicas essenciais na transmissão sináptica, desempenhando papéis cruciais na regulação das funções corporais e na integração do sistema nervoso central e periférico. Eles podem ser classificados em:
Aminoácidos: Como o glutamato, principal neurotransmissor excitatório, e o ácido gama-aminobutírico (GABA), o principal inibitório.
Aminas biogênicas: Incluem dopamina, serotonina, norepinefrina e acetilcolina, que regulam funções como humor, movimento e respostas autonômicas.
Neuropeptídeos: Como a substância P, envolvida na sensação de dor, e as endorfinas, associadas à analgesia e à euforia.
Funções e Efeitos dos Neurotransmissores
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Glutamato: Atua como excitador em sinapses do córtex cerebral e no hipocampo, essenciais para a memória e aprendizado. Seu excesso pode levar à toxicidade neuronal, frequentemente associada a condições como convulsões.
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GABA: Atua no controle da excitação neuronal excessiva, desempenhando um papel crucial na prevenção de crises epilépticas. Medicamentos como o fenobarbital aumentam sua atividade.
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Acetilcolina: Funciona tanto no sistema nervoso central quanto no periférico. Nos neurônios motores, regula a contração muscular. No sistema nervoso autônomo, participa da sinalização parassimpática.
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Norepinefrina e epinefrina: Principais neurotransmissores do sistema simpático, são responsáveis por respostas como aumento da frequência cardíaca e redistribuição do fluxo sanguíneo em situações de estresse.
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Dopamina: Atua em vias motoras e no sistema de recompensa, sendo relevante em condições como doenças degenerativas e transtornos de comportamento.
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Serotonina: Regula o humor, o apetite e o ciclo sono-vigília. Desequilíbrios em sua concentração estão associados a condições como ansiedade e depressão.
Neurotransmissores e o Eixo Hipotálamo-Hipófise-Adrenal (HHA)
O eixo HHA desempenha um papel central na resposta ao estresse, com o hipotálamo liberando o hormônio liberador de corticotrofina (CRH), que estimula a adenohipófise a secretar o hormônio adrenocorticotófico (ACTH). Este, por sua vez, promove a liberação de cortisol pelas adrenais. Neurotransmissores como serotonina e norepinefrina modulam a atividade do eixo HHA, influenciando as respostas comportamentais e fisiológicas ao estresse.
Sistema Simpático e Parassimpático
O sistema nervoso autônomo (SNA) é dividido em simpático e parassimpático, com funções antagonistas que regulam a homeostase corporal. Ambos os sistemas utilizam neurotransmissores específicos para executar suas funções.
Sistema Simpático
O sistema simpático é responsável pelas respostas de "luta ou fuga", preparando o organismo para situações de estresse ou perigo. Seus efeitos incluem:
Aumento da frequência cardíaca: A norepinefrina age em receptores adrenérgicos beta-1 do coração, acelerando os batimentos.
Dilatação brônquica: Facilita a entrada de oxigênio.
Redistribuição do fluxo sanguíneo: A contração dos vasos periféricos e a dilatação dos vasos coronários e musculares asseguram que os tecidos mais necessitados recebam suprimento adequado.
Liberação de glicose: Estimula a glicogenólise e a liberação de glicose no sangue pelo fígado.
Sistema Parassimpático
O sistema parassimpático promove o "descanso e digestão", regulando processos metabólicos em condições de calmaria. A acetilcolina é o principal neurotransmissor, interagindo com receptores muscarínicos e nicotínicos. Seus efeitos incluem:
Redução da frequência cardíaca: Por meio da ação em receptores muscarínicos do coração.
Estimulação da atividade digestória: Aumenta a motilidade gastrintestinal e a secreção de enzimas digestivas.
Constricção pupilar: Aumenta a profundidade de campo visual em situações de baixa luminosidade.
Integração Simpática e Parassimpática
Embora antagonistas, ambos os sistemas frequentemente operam de maneira coordenada. Por exemplo, durante o ato de comer, o sistema parassimpático estimula a digestão, enquanto o simpático regula o fluxo sanguíneo para manter a pressão arterial.
Relações com o Eixo Hipotálamo-Hipófise-Adrenal (HHA)
O sistema simpático está intimamente ligado ao eixo HHA. Durante situações de estresse, a ativação simpática estimula a liberação de epinefrina pelas adrenais, amplificando os efeitos do cortisol na mobilização de energia. Por outro lado, o sistema parassimpático modula as respostas de recuperação, ajudando a restaurar o equilíbrio após o episódio de estresse.
Aplicações em Medicina Veterinária e Zootecnia
O entendimento das sinapses e neurotransmissores tem aplicações clínicas amplas:
Tratamento de distúrbios neurológicos: Como epilepsia em cães, utilizando fármacos que modulam neurotransmissores (ex.: fenobarbital).
Controle da dor: O uso de opioides que atuam em receptores de neuropeptídeos.
Terapias autonômicas: Manejo de condições como bradicardia em equinos com drogas que influenciam o SNA.
Tratamento de distúrbios ácido-base: Correção no manejo nutricional de bovinos leiteiros para manutenção do pH ruminal levando a um estado de equilibrio dos micro-organismos do rumem.
Glossário Técnico
Sinapse: Conexão funcional entre dois neurônios ou entre um neurônio e uma célula-alvo.
Neurotransmissor: Substância química que transmite sinais entre células nervosas.
Axônio: Prolongamento do neurônio que transmite impulsos elétricos.
Receptor: Proteína que se liga ao neurotransmissor para iniciar uma resposta.
Homeostase: Manutenção da estabilidade interna do organismo.
Estudo Dirigido
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O que é uma sinapse nervosa?
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Qual a diferença entre sinapse química e elétrica?
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Dê exemplos de neurotransmissores excitatórios e inibitórios.
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Qual é o papel do glutamato?
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Quais são os principais neurotransmissores do sistema simpático?
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Como a acetilcolina atua no sistema parassimpático?
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O que é recaptação sináptica?
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Qual a função do GABA?
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Cite uma aplicação clínica do conhecimento de sinapses em cães.
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Por que é importante entender os sistemas simpático e parassimpático na medicina veterinária e zootecnia?
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Estudos de Caso
Caso 1: Cão com Epilepsia
Um cão da raça Poodle, 5 anos, apresentou crises convulsivas. Durante o exame neurológico, foi identificado hiperexcitabilidade cortical. O tratamento incluiu fenobarbital, um fármaco que aumenta a ação do GABA, promovendo inibição sináptica.
Pergunta: Explique como o fenobarbital atua na sinapse nervosa. Resposta: Ele aumenta a ação do GABA, intensificando a inibição sináptica e reduzindo a atividade neuronal excessiva.
Caso 2: Bradicardia em Cavalo Atleta
Um cavalo de esporte apresentou bradicardia severa após competição. A administração de atropina, um antagonista muscarínico, foi eficaz para restaurar a frequência cardíaca.
Pergunta: Qual foi o mecanismo de ação da atropina no sistema parassimpático?
Resposta: A atropina bloqueia os receptores muscarínos, inibindo o efeito da acetilcolina e aumentando a frequência cardíaca.