Fisiologia do Sistema Nervoso dos Mamíferos Domésticos


FISIOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO DOS MAMÍFEROS DOMÉSTICOS

1. Introdução

O sistema nervoso dos mamíferos domésticos é um dos principais reguladores das funções fisiológicas do organismo, sendo responsável pela coordenação das respostas motoras, sensoriais, autônomas e comportamentais. Ele se divide em sistema nervoso central (SNC) e sistema nervoso periférico (SNP), com subdivisões funcionais que incluem o sistema nervoso somático e o sistema nervoso autônomo (simpático e parassimpático).

2. Anatomia do Sistema Nervoso

O sistema nervoso é composto por estruturas altamente especializadas que coordenam respostas sensoriais e motoras.

2.1 Sistema Nervoso Central (SNC)

O SNC inclui o encéfalo e a medula espinhal. O encéfalo é subdividido em:

  • Córtex cerebral: Responsável pelo processamento das informações cognitivas e motoras.
  • Cerebelo: Coordena a postura e os movimentos.
  • Tronco encefálico: Controla funções autônomas, como a respiração e a frequência cardíaca.

A medula espinhal atua como um canal de transmissão de informação entre o encéfalo e o corpo.

2.2 Sistema Nervoso Periférico (SNP)

O SNP - Sistema Nervoso Periférico é composto por nervos cranianos e espinhais que conectam o SNC ao resto do corpo.

3. Pares de Nervos Cranianos

Os mamíferos possuem 12 pares de nervos cranianos, que desempenham funções sensoriais e motoras essenciais:

  1. Nervo olfatório (I): Responsável pela percepção dos odores.
  2. Nervo óptico (II): Conduz informações visuais da retina para o encéfalo.
  3. Nervo oculomotor (III): Controla a movimentação ocular e a contração da pupila.
  4. Nervo troclear (IV): Movimenta o músculo oblíquo superior do olho.
  5. Nervo trigêmeo (V): Responsável pela sensibilidade da face e pelo movimento dos músculos da mastigação.
  6. Nervo abducente (VI): Controla a movimentação lateral dos olhos.
  7. Nervo facial (VII): Coordena os músculos da expressão facial e a gustação dos 2/3 anteriores da língua.
  8. Nervo vestibulococlear (VIII): Relacionado ao equilíbrio e à audição.
  9. Nervo glossofaríngeo (IX): Atua na deglutição e na gustação do terço posterior da língua.
  10. Nervo vago (X): Controla funções autônomas dos órgãos viscerais.
  11. Nervo acessório (XI): Movimenta músculos do pescoço e ombro.
  12. Nervo hipoglosso (XII): Responsável pelos movimentos da língua.



4. Histologia dos Neurônios Simpáticos e Parassimpáticos

Os neurônios simpáticos possuem corpos celulares localizados nos gânglios simpáticos e apresentam axônios pré-ganglionares curtos e pós-ganglionares longos. Já os neurônios parassimpáticos possuem corpos celulares próximos ou dentro dos órgãos-alvo, com axônios pré-ganglionares longos e pós-ganglionares curtos. Ambos utilizam neurotransmissores distintos: noradrenalina no sistema simpático e acetilcolina no sistema parassimpático.

Divisão do sistema nervoso – Anatomia papel e caneta

Os neurônios simpáticos utilizam a noradrenalina como neurotransmissor na sinapse com o órgão-alvo, exceto nas glândulas sudoríparas, onde a acetilcolina predomina. Os neurônios parassimpáticos liberam acetilcolina tanto na sinapse ganglionar quanto no órgão-alvo. Os receptores nicotínicos estão presentes na sinapse ganglionar, enquanto os receptores muscarínicos se encontram nos tecidos-alvo do sistema parassimpático.

 

Fonte: http://bio-neuro-psicologia.usuarios.rdc.puc-rio.br/sistema-nervoso-aut%C3%B4nomo-e-som%C3%A1tico.html

5. Fisiologia do Sistema Nervoso Simpático e Parassimpático

  • Sistema Simpático: Ativado em situações de estresse, promovendo aumento da frequência cardíaca, dilatação das pupilas, broncodilatação e liberação de glicose hepática.
  • Sistema Parassimpático: Atua no estado de repouso, reduzindo a frequência cardíaca, promovendo digestão e estimulando secreções glandulares.

O controle do sistema nervoso autônomo ocorre por meio de centros encefálicos, como o hipotálamo e o tronco encefálico, que regulam as atividades simpáticas e parassimpáticas de acordo com as necessidades fisiológicas do organismo.

 

Fonte: http://bio-neuro-psicologia.usuarios.rdc.puc-rio.br/sistema-nervoso-aut%C3%B4nomo-e-som%C3%A1tico.html 

6. Interação do Sistema Nervoso com Outros Sistemas

6.1 Sistema Endócrino

O sistema nervoso regula a liberação hormonal pelo eixo hipotálamo-hipófise-adrenal. O estresse ativa a secreção de cortisol, modulando respostas metabólicas e imunológicas. Além disso, hormônios como adrenalina e noradrenalina influenciam a pressão arterial e a glicemia.

6.2 Reação de Luta ou Fuga

Mediada pelo sistema simpático, essa reação provoca aumento da pressão arterial, frequência cardíaca, fluxo sanguíneo para os músculos e glicogenólise hepática.

6.3 Metabolismo da Glicose

O sistema simpático promove glicogenólise e gliconeogênese, enquanto o parassimpático favorece a síntese e o armazenamento de glicogênio hepático.

6.4 Sistema Cardiorrespiratório

O sistema simpático aumenta a frequência cardíaca e a ventilação pulmonar, enquanto o parassimpático reduz ambos, promovendo homeostasia.

6.5 Eixo Hipotálamo-Hipófise

O hipotálamo regula a secreção de hormônios hipofisários como ACTH, influenciando a liberação de glicocorticoides e catecolaminas.

7. Mecanismos de Feedback Simpático e Parassimpático

Os mecanismos de feedback garantem a homeostasia através de reflexos neuro-hormonais. 

  1. Feedback Negativo: Um mecanismo corretivo que inibe alterações fora dos limites normais.

    • Exemplo: O aumento da pressão arterial ativa barorreceptores, reduzindo a atividade simpática e aumentando a parassimpática.
  2. Feedback Positivo: Um mecanismo amplificador que intensifica uma resposta até atingir um ponto crítico.

    • Exemplo: Durante a hipoglicemia ativa o sistema simpático para mobilizar glicose.

8. Glossário

  1. Barorreceptores: Detectam variações na pressão arterial.

  2. Glicogenólise: Quebra do glicogênio em glicose.

  3. Neurotransmissor: Substância química que transmite sinais entre neurônios.

  4. Gânglio: Estrutura onde ocorrem sinapses de neurônios periféricos.

  5. Catecolaminas: Hormônios como adrenalina e noradrenalina.

  6. Hipotálamo: Região encefálica que regula funções autônomas e hormonais.

  7. ACTH: Hormônio adrenocorticotrófico, estimula a liberação de cortisol.

  8. Sinapse: Região de comunicação entre neurônios.

  9. Vasoconstrição: Redução do diâmetro dos vasos sanguíneos.

  10. Broncodilatação: Abertura das vias aéreas para melhorar a oxigenação.

9. Estudo Dirigido

1. Quais as principais divisões do sistema nervoso?

2. Como os sistemas nervoso simpático e parassimpático se diferenciam?

3. Qual a relação entre o sistema nervoso e a glicemia?

4. Como o hipotálamo regula a resposta ao estresse?

5. O que é a reação de luta ou fuga?

6. Quais são os principais neurotransmissores do sistema nervoso autônomo?

7. Como o sistema nervoso influencia a frequência cardíaca?

8. Como ocorre a regulação da pressão arterial?

9. Qual a importância dos pares cranianos na fisiologia?

10. Como ocorre a regulação autonômica da respiração?

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10. Casos clínicos

Caso 1: Cão com Cinomose

O pequeno Thor, um cãozinho sem raça definida de apenas oito meses, era a alegria da casa. Sempre ativo e brincalhão, ele corria pelo quintal como se não houvesse amanhã. No entanto, algumas semanas atrás, seu tutor, Felipe, começou a notar algo estranho. Primeiro, Thor teve um episódio de febre e ficou mais quieto do que o normal. Seu focinho apresentava uma secreção serosa, e em alguns dias ele passou a ter diarreia intermitente. Inicialmente, Felipe achou que fosse apenas uma virose passageira, mas à medida que os dias passaram, os sintomas mudaram drasticamente.

O filhote começou a apresentar tremores musculares involuntários, principalmente nas patas traseiras, que pareciam ter vida própria. Depois, vieram as dificuldades para andar, como se Thor estivesse desorientado e sem controle sobre seus movimentos. O que mais assustou Felipe foi quando o cãozinho, antes tão ativo, teve sua primeira crise convulsiva. Ele caiu no chão, com o corpo rígido, e se debateu violentamente por alguns segundos que pareceram uma eternidade.

Desesperado, Felipe levou Thor ao veterinário, que imediatamente suspeitou de cinomose nervosa, uma das formas mais graves da doença viral. Durante o exame clínico, foi possível notar que o filhote também apresentava hiperestesia – uma sensibilidade aumentada ao toque – além de paresia progressiva e sinais de desorientação.

Para confirmar a suspeita, foram realizados exames complementares. O hemograma revelou leucopenia e linfopenia, compatíveis com uma infecção viral. A bioquímica sanguínea mostrou uma leve lesão hepática secundária, e o teste de PCR confirmou a presença do vírus da cinomose no organismo de Thor. A análise do líquor evidenciou pleocitose linfocitária e discreto aumento de proteínas, enquanto a ressonância magnética revelou áreas de desmielinização no tronco encefálico e cerebelo – sinais característicos da forma neurológica da doença.

O veterinário explicou a Felipe que o vírus da cinomose ataca células do sistema nervoso, levando a neurodegeneração progressiva. O prognóstico era reservado a ruim, pois a doença já estava avançada e, muitas vezes, mesmo com tratamento, os danos neurológicos são irreversíveis.

O tratamento foi baseado em terapia de suporte, incluindo fluidoterapia para manter a hidratação, nutrição assistida e medicamentos para controle das convulsões, como fenobarbital e levetiracetam. Corticoides foram considerados para reduzir a inflamação neurológica, e antibióticos foram administrados para evitar infecções secundárias.

Apesar dos esforços, os dias seguintes foram desafiadores. Thor apresentou novas crises convulsivas e sua fraqueza muscular se agravou. Felipe percebeu que, embora estivesse lutando, seu filhote já não tinha mais qualidade de vida. Com o coração pesado, tomou uma das decisões mais difíceis de sua vida: optou pela eutanásia, garantindo que Thor não sofresse mais.

A história de Thor reforça a importância da vacinação contra a cinomose. Uma doença cruel que poderia ter sido evitada com um simples protocolo vacinal nos primeiros meses de vida.

Caso 2: Garrote com paralisia

Na imensidão dos campos do Mato Grosso do Sul, a fazenda do Sr. Antônio sempre foi referência em criação de gado Nelore. Seus animais eram criados de forma extensiva, pastando livremente e ganhando peso de maneira saudável. No entanto, em um final de tarde, um de seus funcionários encontrou um dos garrotes, um belo macho de 14 meses, prostrado no chão, incapaz de se levantar.

Inicialmente, pensaram que poderia ser apenas cansaço ou alguma lesão. Mas, ao tentarem estimular o animal a se levantar, perceberam que suas patas estavam flácidas, sem resposta. O garrote tentava mastigar, mas não conseguia deglutir direito, demonstrando dificuldade na preensão alimentar. Seus olhos estavam sem vida, com as pálpebras caídas (ptose palpebral), e sua respiração estava ficando cada vez mais lenta.

Preocupado, Sr. Antônio chamou o veterinário da região. Ao chegar, o profissional avaliou o animal e notou que a fraqueza muscular estava progredindo rapidamente, um forte indicativo de paralisia flácida. Perguntou sobre o manejo alimentar recente e descobriu que o gado tinha acesso a uma área onde havia carcaças de pequenos animais em decomposição. A suspeita foi imediata: botulismo.

Para confirmar o diagnóstico, foram realizados exames laboratoriais. A análise do solo e dos alimentos consumidos revelou a presença da toxina botulínica, enquanto a bioquímica sérica indicava hipocalemia leve e discreta acidose metabólica. O veterinário explicou que a toxina botulínica, produzida pelo Clostridium botulinum, bloqueia a liberação de acetilcolina nas junções neuromusculares, impedindo a contração dos músculos e levando à paralisia progressiva. Diferentemente de outras intoxicações, como a causada por organofosforados, o botulismo não provoca hiperestimulação neuromuscular, mas sim um bloqueio completo da contração muscular.

O tratamento foi iniciado de forma emergencial. O garrote recebeu soro antibotulínico específico para os tipos C e D, que, embora eficaz em estágios iniciais, tem pouca ação quando a toxina já se fixou às terminações nervosas. Além disso, foi iniciada fluidoterapia intensa para manter a hidratação e suporte nutricional, já que o animal não conseguia se alimentar sozinho.

Nos dias seguintes, o estado do garrote continuou crítico. Sua respiração ficou ainda mais fraca, indicando que a paralisia já havia atingido os músculos intercostais e o diafragma. Sem ventilação assistida, ele não resistiu.

Após a perda do animal, o veterinário orientou Sr. Antônio sobre medidas preventivas essenciais, como a remoção de carcaças do pasto, manejo adequado da alimentação e suplementação mineral equilibrada, evitando que os bovinos desenvolvessem o hábito de ingerir materiais suspeitos por carência nutricional.

A morte do garrote foi um alerta para a fazenda. O botulismo é uma doença silenciosa e devastadora, mas pode ser evitado com manejo adequado e controle rigoroso do ambiente.

Conclusão

Os casos de cinomose nervosa e botulismo destacam a importância do diagnóstico precoce e do manejo adequado em neurologia veterinária. Ambas as patologias compartilham uma progressão severa e envolvem processos fisiopatológicos distintos, sendo a cinomose caracterizada por desmielinização e inflamação viral, e o botulismo por bloqueio neuroparalítico na junção neuromuscular.

O conhecimento aprofundado da interação entre sistema nervoso, bioquímica e resposta imunológica é essencial para o diagnóstico e tratamento eficaz dessas enfermidades em mamíferos domésticos.








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