Fisiologia da Regulação da Glicose em Monogástricos

 

Interação entre Cortisol, Insulina e Glucagon na Regulação Energética de Monogástricos

1. Introdução

Nos mamíferos monogástricos, como cães, gatos e suínos, a manutenção da homeostase glicêmica é um processo complexo que envolve a interação entre os hormônios cortisol, insulina e glucagon. Esses hormônios regulam o metabolismo da glicose, controlando sua produção, armazenamento e utilização pelos tecidos corporais.

2. Órgãos de Produção dos Hormônios

  • Cortisol: Produzido pelo córtex adrenal (glândulas suprarrenais), tem papel fundamental na mobilização de substratos energéticos.
  • Insulina: Secretada pelas células beta do pâncreas (ilhas de Langerhans), regula a captação e armazenamento da glicose.
  • Glucagon: Produzido pelas células alfa do pâncreas, tem função oposta à insulina, promovendo a liberação de glicose na circulação sanguínea.

3. Papel dos Hormônios na Digestão e Armazenamento da Glicose

3.1 Digestão e Absorção da Glicose

A digestão dos carboidratos nos monogástricos ocorre principalmente no intestino delgado, onde as enzimas (amilase pancreática e dissacaridases) quebram polissacarídeos e dissacarídeos em monossacarídeos, como a glicose. A glicose é absorvida pelos enterócitos e transportada para a circulação sanguínea.

3.2 Papel da Insulina

Após a ingestão de alimento, a glicose absorvida no intestino entra na corrente sanguínea, estimulando a secreção de insulina. A insulina:

  • Estimula a captação de glicose pelas células musculares e adiposas.
  • Promove a síntese de glicogênio no fígado e nos músculos (glicogênese).
  • Inibe a produção de glicose pelo fígado (gliconeogênese e glicogenólise).

3.3 Papel do Glucagon

Durante o jejum ou em situações de hipoglicemia, a secreção de insulina diminui e o glucagon é liberado, promovendo:

  • A degradação do glicogênio hepático para liberar glicose na circulação (glicogenólise).
  • A síntese de glicose a partir de substratos não glicídicos (gliconeogênese), como aminoácidos e lipídeos.

3.4 Papel do Cortisol

O cortisol, um hormônio glicocorticóide, é liberado em resposta ao estresse ou ao jejum prolongado. Suas principais ações incluem:

  • Estimula a gliconeogênese hepática.
  • Promove o catabolismo proteico, liberando aminoácidos para a produção de glicose.
  • Reduz a captação de glicose pelos tecidos periféricos, preservando-a para órgãos essenciais, como o cérebro.

4. Gliconeogênese e Glicogenólise em Monogástricos

4.1 Glicogenólise

A glicogenólise ocorre no fígado e nos músculos, sendo estimulada pelo glucagon e pelo cortisol. Este processo envolve:

  1. Conversão do glicogênio hepático em glicose livre.
  2. Liberação da glicose na corrente sanguínea para manter a homeostase.
  3. Nos músculos, o glicogênio é convertido em glicose-6-fosfato e utilizado localmente para produção de ATP.

4.2 Gliconeogênese

A gliconeogênese é a síntese de glicose a partir de precursores não glicídicos, ocorrendo principalmente no fígado e, em menor grau, nos rins. Seus substratos incluem:

  • Aminoácidos provenientes da degradação muscular (sob a influência do cortisol).
  • Glicerol liberado pela lipólise de triglicerídeos.
  • Lactato proveniente do metabolismo anaeróbio.

5. Relação com Jejum e Consumo de Alimento

5.1 Estado Alimentado

  • A insulina é predominante, promovendo o armazenamento de glicose e inibindo a gliconeogênese e a glicogenólise.
  • O fígado e os músculos sintetizam glicogênio.
  • A glicose é utilizada preferencialmente como fonte de energia.

5.2 Jejum Curto (Horas)

  • O glucagon é secretado, estimulando a glicogenólise hepática para manter os níveis glicêmicos.
  • O cortisol ainda não exerce forte influência.

5.3 Jejum Prolongado (Dias)

  • As reservas hepáticas de glicogênio são esgotadas.
  • A gliconeogênese se torna a principal via de produção de glicose.
  • O cortisol promove o catabolismo proteico, fornecendo aminoácidos para gliconeogênese.
  • Em gatos, que são carívoros estritos, a gliconeogênese é continuamente ativada devido à sua dependência de proteínas como fonte de energia.

6. Considerações Finais

A regulação hormonal da glicose em mamíferos monogástricos envolve um equilíbrio dinâmico entre insulina, glucagon e cortisol. A interação desses hormônios garante a manutenção dos níveis de glicose no sangue, adaptando o metabolismo à disponibilidade de nutrientes e às demandas energéticas do organismo.

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