Bioquímica da Sinalização Celular
Mecanismos Bioquímicos da Sinalização Celular
1. Ativação da Via da Proteíno Quinase A (PKA) pelo Aumento do AMPc
A proteíno quinase A (PKA) é uma enzima fundamental na transdução de sinais mediados pelo monofosfato de adenosina cíclico (AMPc). Este segundo mensageiro é produzido pela ação da adenilato ciclase sobre o ATP e atua como um modulador da atividade celular em resposta a hormônios como adrenalina, glucagon e ACTH.Para mais detalhes recomendamos a leitura do artigo "Proteínas quinases: características estruturais e inibidores químicos".
Mecanismo de ativação da PKA
- Ligacão do hormônio ao receptor: A interação de um hormônio, como o glucagon, com seu receptor acoplado à proteína Gs na membrana plasmática ativa a subunidade alfa da proteína G.
- Ativação da adenilato ciclase: A subunidade alfa ativada interage com a adenilato ciclase, promovendo a conversão de ATP em AMPc.
- Aumento da concentração de AMPc: O acúmulo intracelular de AMPc desencadeia a dissociação da PKA inativa, que é composta por duas subunidades regulatórias e duas catalíticas.
- Ativação da PKA: O AMPc se liga às subunidades regulatórias, promovendo sua dissociação e liberando as subunidades catalíticas ativas, que fosforilam diversas proteínas-alvo dentro da célula.
- Respostas celulares: A PKA pode ativar ou inibir enzimas envolvidas no metabolismo de carboidratos, lipídeos e proteínas, regulando processos como glicogenólise, lipólise e expressão gênica.
A dessensibilização da via ocorre pela hidrólise do AMPc pela fosfodiesterase, convertendo-o em AMP inativo, encerrando a sinalização.
2. Resistência à Insulina no Hiperadrenocorticismo Crônico e o Papel da PEPCK na Gliconeogênese Hepática
O hiperadrenocorticismo (síndrome de Cushing) é caracterizado pelo excesso crônico de glicocorticoides, como o cortisol, resultando em efeitos metabólicos profundos, incluindo a resistência à insulina.
Indução da Resistência à Insulina
- Ação do cortisol: O cortisol é um hormônio catabólico que estimula a gliconeogênese hepática e reduz a captação de glicose pelos tecidos periféricos, especialmente no fígado e músculo.
- Indução da PEPCK: O cortisol aumenta a expressão da fosfoenolpiruvato carboxiquinase (PEPCK), uma enzima essencial na gliconeogênese. A PEPCK converte o oxaloacetato em fosfoenolpiruvato, um passo crítico na síntese de glicose a partir de precursores não glicídicos.
- Efeito sobre a insulina: O aumento da produção de glicose pelo fígado reduz a eficácia da insulina, pois as células percebem um ambiente de alta glicose e diminuem a expressão e sensibilidade dos receptores de insulina.
- Feedback negativo: Com a glicemia persistentemente elevada, o pâncreas aumenta a secreção de insulina. Entretanto, a resistência periférica impede a redução eficaz dos níveis de glicose, levando a um estado de hiperglicemia crônica e predisposição ao diabetes mellitus.
3. Aumento do AMPc por Adenilato Ciclase e Produção de Cortisol a partir do Colesterol
A síntese de cortisol ocorre na zona fasciculada do córtex adrenal e é regulada pelo AMPc gerado pela adenilato ciclase em resposta ao hormônio adrenocorticotópico (ACTH).
Etapas da Produção de Cortisol
- Ativação do receptor de ACTH: O ACTH se liga ao receptor de melanocortina-2 (MC2R) nas células da zona fasciculada.
- Ativação da adenilato ciclase: A sinalização via proteína Gs ativa a adenilato ciclase, que converte ATP em AMPc.
- Ativação da PKA: O AMPc ativa a PKA, promovendo a fosforilação de proteínas-alvo.
- Mobilização do colesterol: A PKA estimula a proteína StAR (Steroidogenic Acute Regulatory Protein), que regula o transporte do colesterol para a mitocôndria.
- Conversão do colesterol em cortisol: O colesterol é convertido em pregnenolona pela enzima P450scc na mitocôndria e, após várias transformações enzimáticas, é convertido em cortisol no retículo endoplasmático.
- Liberação do cortisol: O cortisol é secretado na corrente sanguínea e exerce efeitos metabólicos ao estimular a gliconeogênese, mobilizar lipídeos e induzir resistência à insulina.
Regulação por Feedback Negativo
Os níveis elevados de cortisol exercem feedback negativo sobre o eixo hipotalâmico-hipofisário, inibindo a secreção de CRH (hormônio liberador de corticotropina) pelo hipotálamo e de ACTH pela adeno-hipófise, reduzindo a produção adicional de cortisol.