Fisiologia do globo ocular dos animais domésticos

Fisiologia do Globo Ocular dos Animais Domésticos

 Fonte:https://segredosdomundo.r7.com/13-imagens-que-revelam-como-os-animais-enxergam-o-mundo/

Acima uma imagem ilustrando a visão dos cavalos .
 1. Introdução

A visão é um dos sentidos mais importantes para os animais domésticos, contribuindo significativamente para sua interação com o ambiente. A diversidade no sistema visual reflete adaptações a diferentes nichos ecológicos e necessidades comportamentais. Neste material, exploraremos a fisiologia do globo ocular, as peculiaridades visuais entre espécies e o impacto de alterações patológicas na visão.

 2. Anatomia do Globo Ocular

O globo ocular é uma estrutura complexa, composta por camadas e elementos especializados. 

 - Córnea: Camada transparente e externa, responsável pela refração inicial da luz.

- Íris e Pupila: Regula a quantidade de luz que entra no olho.

- Cristalino: Focaliza a luz sobre a retina, ajustando o foco para diferentes distâncias.

- Retina: Camada neural sensível à luz, contendo bastonetes (visão em baixa luminosidade) e cones (visão de cores).

- Nervo Óptico: Transporta sinais visuais ao cérebro.

 A anatomia do olho varia entre espécies, influenciando a qualidade da visão. Por exemplo, bovinos possuem uma visão mais panorâmica devido à posição lateral dos olhos, enquanto carnívoros como cães e gatos possuem visão binocular.

 3. Formação da Imagem

A visão começa quando a luz atravessa as estruturas transparentes do olho e atinge a retina. A refração ocorre principalmente na córnea e no cristalino, que ajusta o foco (acomodação). Na retina, a luz é convertida em sinais elétricos, que são transmitidos pelo nervo óptico ao cérebro. O processamento ocorre no córtex visual, onde a imagem é interpretada.

 4. Células da Visão: Bastonetes e Cones

A retina possui dois tipos principais de fotorreceptores:

 - Bastonetes: Altamente sensíveis à luz, permitem a visão em condições de baixa luminosidade, mas não percebem cores.

- Cones: Menos sensíveis à luz, proporcionam visão colorida e alta acuidade visual.

 Nos cães e gatos, predomina a visão dicromática (percepção de azul e amarelo), enquanto os bovinos possuem baixa acuidade visual e visão limitada a tons de azul e amarelo.

 5. Vias Visuais e Processamento Cerebral

Os sinais da retina percorrem o nervo óptico até o quiasma óptico, onde ocorre a decussação parcial das fibras nervosas. Em seguida, seguem pelo trato óptico até o corpo geniculado lateral e o córtex visual. A organização retinotópica permite uma representação precisa do campo visual.

 6. Exame do Fundo de Olho

O exame oftalmoscópico é crucial para avaliar alterações na retina, no nervo óptico e nos vasos sanguíneos. Normalmente, o fundo de olho apresenta:

 - Cães: Tapetum lucidum bem desenvolvido, vasos em padrão estrelado.

- Gatos: Tapetum mais homogêneo, com menos vasos visíveis.

- Bovinos: Tapetum amplo, adaptado à visão noturna.

 Alterações podem indicar patologias como uveítes ou degenerações retinianas.

 7. Adaptações Visuais em Diferentes Espécies

- Visão Noturna: Carnívoros possuem alta densidade de bastonetes e tapetum lucidum, maximizando a sensibilidade à luz.

- Visão Panorâmica: Herbívoros têm olhos posicionados lateralmente, permitindo ampla cobertura visual.

- Visão de Cores: A percepção de cores é limitada na maioria dos animais domésticos, sendo adaptada a suas necessidades ecológicas.

 8. Estudo de Caso

8.1 Caso 1: Gato com Uveíte Infecciosa

- Histórico Clínico: Gato, macho, 4 anos, apresentando fotofobia, lacrimejamento e olho avermelhado.

- Achados Clínicos: Redução da acuidade visual, presença de hipema (sangue na câmara anterior).

- Diagnóstico Presuntivo: Uveíte infecciosa, possivelmente causada por toxoplasmose ou FIV (Vírus da Imunodeficiência Felina).

1. Qual a fisiologia da inflamação ocular?

   - A inflamação na uveíte afeta a vascularização da úvea, aumentando a permeabilidade vascular e a migração de células inflamatórias.

 2. Como a toxoplasmose causa uveíte?

   - O Toxoplasma gondii invade os tecidos oculares, provocando inflamação local.

 3. Quais exames são necessários?

   - Sorologia para Toxoplasma gondii, FIV e FeLV, e ultrassonografia ocular.

 4. Qual o tratamento inicial?

   - Anti-inflamatórios tópicos e sistêmicos (ex.: prednisolona) e terapia antimicrobiana específica.

 5. Qual o prognóstico?

   - Com tratamento adequado, o prognóstico é reservado a bom, dependendo da causa subjacente.

 8.2 Caso 2: Bovino com Cerato-Conjuntivite Seca

- Histórico Clínico: Bovino, fêmea, 5 anos, com secreção ocular e ulceração corneal.

- Achados Clínicos: Olho seco, córnea opaca e vascularização superficial.

- Diagnóstico Presuntivo: Cerato-conjuntivite infecciosa, agravada por exposição a poeira.

 Perguntas e Respostas

1. Como o olho seco interfere na fisiologia ocular?

   - A falta de lágrimas prejudica a lubrificação e nutrição da córnea, aumentando o risco de infecções.

 2. Qual agente etiológico provável?

   - Moraxella bovis, bactéria comum em cerato-conjuntivite infecciosa.

 3. Como ocorre a patogênese?

   - A bactéria adere ao epitélio corneal, provocando inflamação e ulceração.

 4. Qual a importância do diagnóstico precoce?

   - Evita complicações como perfuração corneal e cegueira.

 5. Qual o tratamento indicado?

   - Antibióticos tópicos e sistêmicos (ex.: oxitetraciclina) e lubrificantes oculares.

 6. Quais medidas de controle podem ser adotadas?

   - Redução de poeira, controle de vetores e vacinação.

 7. O que esperar do prognóstico?

   - Em casos leves, o prognóstico é bom com tratamento adequado.

 8. Por que bovinos são mais suscetíveis?

   - Devido à exposição frequente a irritantes ambientais e alta densidade populacional.

 9. Quais complicações podem ocorrer?

   - Perfuração corneal, abscessos intraoculares e perda permanente da visão.

 10. Há predisposição genética?

    - Em algumas raças, pode haver maior susceptibilidade devido à estrutura ocular.

  9. Conclusão

A compreensão da fisiologia ocular e das adaptações específicas é fundamental para o manejo clínico e preventivo das doenças oculares. Patologias como uveítes e cerato-conjuntivites ilustram a importância do diagnóstico precoce e de tratamentos adequados, ressaltando o papel do médico veterinário na preservação da visão animal.

 

 9. Estudo Dirigido

  Seção 1: Anatomia do Globo Ocular

1. Explique a função de cada camada do globo ocular (esclera, coróide e retina).

2. Qual é o papel da córnea na formação da imagem e por que ela é considerada a principal estrutura refrativa do olho?

3. Como a íris e a pupila trabalham juntas para regular a entrada de luz no olho?

4. Descreva as diferenças estruturais e funcionais do cristalino em comparação com a córnea.

 Seção 2: Formação da Imagem

5. Descreva o trajeto da luz desde sua entrada no olho até a formação da imagem na retina.

6. Explique o processo de acomodação e a participação do cristalino nesse mecanismo.

7. Por que a imagem formada na retina é invertida e como o cérebro corrige isso?

 Seção 3: Células da Visão

8. Quais são as principais diferenças entre bastonetes e cones em relação à sensibilidade à luz e à percepção de cores?

9. Explique a distribuição de bastonetes e cones na retina de diferentes espécies e sua relação com hábitos noturnos ou diurnos.

10. Como a deficiência ou ausência de cones afeta a visão de cores em animais?

 Seção 4: Vias Visuais e Processamento

11. O que ocorre no quiasma óptico e como isso contribui para a visão binocular?

12. Descreva o papel do córtex visual no processamento de imagens.

13. Como a organização retinotópica auxilia na representação precisa do campo visual?


 Seção 5: Adaptações Visuais em Diferentes Espécies

14. Quais adaptações visuais permitem que carnívoros enxerguem melhor à noite?

15. Explique como a visão panorâmica é uma vantagem evolutiva para herbívoros.


10. Glossário de Termos Técnicos

 

1. Acomodação: Ajuste do cristalino para focalizar objetos a diferentes distâncias. Envolve a contração dos músculos ciliares e a alteração da curvatura do cristalino.

 2. Bastonetes: Fotorreceptores da retina sensíveis à luz fraca, responsáveis pela visão em condições de baixa luminosidade. Não percebem cores.

 3. Cones: Fotorreceptores responsáveis pela percepção de cores e alta acuidade visual. Operam melhor sob luz intensa.

 4. Córnea: Camada transparente e externa do olho que realiza a maior parte da refração da luz que entra no olho.

 5. Cristalino: Estrutura transparente e biconvexa que ajusta o foco da luz sobre a retina por meio do processo de acomodação.

 6. Quiasma Óptico: Região onde os nervos ópticos se cruzam parcialmente, permitindo a integração das informações visuais dos dois olhos.

 7. Tapetum Lucidum: Estrutura refletiva na coróide presente em muitos animais, que aumenta a sensibilidade à luz em condições de baixa luminosidade.

 8. Retina: Camada neural no fundo do olho que contém fotorreceptores (bastonetes e cones) e converte luz em impulsos nervosos.

 9. Nervo Óptico: Feixe de fibras nervosas que transmite os impulsos elétricos gerados na retina para o cérebro.

 10. Fóvea: Região central da retina com alta densidade de cones, responsável pela visão de detalhes e cores em alta definição.

 11. Refração: Processo de desvio da luz ao passar por um meio transparente, como a córnea e o cristalino, para formar uma imagem nítida na retina.

 12. Tapetum: Camada refletiva específica de certas espécies que melhora a visão noturna ao refletir a luz de volta para a retina.

 13. Visão Binocular: Sobreposição dos campos visuais de ambos os olhos, permitindo a percepção de profundidade.

 14. Visão Panorâmica: Campo de visão amplo, comum em herbívoros, devido à posição lateral dos olhos.

 15. Organização Retinotópica: Arranjo espacial das células visuais que preserva a correspondência entre pontos da retina e áreas do córtex visual.

 16. Percepção de Cores: Capacidade de distinguir diferentes comprimentos de onda de luz, mediada pelos cones da retina.

 17. Campo Visual: Área total que pode ser vista sem mover os olhos, influenciada pela posição dos olhos na cabeça.

 18. Esclera: Camada externa do olho, composta por tecido conjuntivo denso, que protege e dá forma ao globo ocular.

 19. Íris: Estrutura pigmentada que controla o tamanho da pupila e, consequentemente, a quantidade de luz que entra no olho.

 20. Córtex Visual: Área do cérebro responsável pelo processamento e interpretação de estímulos visuais recebidos da retina.

 Como Cães, Gatos, Equinos e Bovinos Veem as Cores: Uma Perspectiva Anatômica e Fisiológica

 

A visão de cores varia significativamente entre cães, gatos, equinos e bovinos devido às diferenças anatômicas, celulares e fisiológicas na retina e nos mecanismos cerebrais de processamento visual. Cada espécie evoluiu com adaptações específicas que refletem suas necessidades ecológicas e comportamentais.

 1. Cães: Visão Dicromática Simplificada

 - Anatomia e Células da Retina:  

  A retina dos cães possui dois tipos de cones (dicromatismo), sensíveis às cores azul (comprimentos de onda curtos) e amarelo (comprimentos de onda médios). Eles não possuem cones para comprimentos de onda longos (vermelho), o que significa que não distinguem entre vermelho e verde; ambas as cores aparecem em tons de cinza ou amarelo.

 - Fisiologia da Decodificação:  

  O cérebro dos cães interpreta as cores de forma limitada, com maior ênfase em contraste e luminosidade. Essa capacidade é suficiente para identificar objetos importantes em seu ambiente, como presas em movimento.

 - Resultado Visual:  

  Os cães veem um mundo menos colorido, semelhante à visão de uma pessoa com daltonismo vermelho-verde. Seu foco visual é mais na percepção de movimento e contraste do que em cores vibrantes.

 2. Gatos: Especialistas em Visão Noturna

 - Anatomia e Células da Retina:  

  Assim como os cães, os gatos possuem dois tipos de cones (dicromáticos), mas com maior predominância de bastonetes. Esses bastonetes permitem excelente visão em condições de baixa luminosidade, enquanto a percepção de cores é secundária.

 - Fisiologia da Decodificação:  

  A visão dos gatos é ajustada para detectar movimentos rápidos e objetos em ambientes escuros. Embora consigam distinguir azul e amarelo, têm dificuldade com vermelho e verde, que aparecem em tons apagados ou acinzentados.

 - Resultado Visual:  

  A visão de cores nos gatos é limitada, mas sua capacidade de ver em quase completa escuridão compensa essa deficiência. Eles percebem o mundo com baixa saturação de cores e alta sensibilidade a detalhes em movimento.

  3. Equinos: Campo Visual Panorâmico com Visão de Cores Restrita

 - Anatomia e Células da Retina:  

  A retina dos cavalos é predominantemente composta por dois tipos de cones, sensíveis ao azul e ao amarelo. Como seus olhos estão posicionados lateralmente, possuem um campo de visão extremamente amplo, mas menor sobreposição binocular.

 - Fisiologia da Decodificação:  

  O cérebro equino processa cores de forma rudimentar. Eles não conseguem diferenciar o vermelho do verde, mas distinguem com clareza o azul e o amarelo. Esse sistema de cores é suficiente para detectar obstáculos e diferenças no terreno.

 - Resultado Visual:  

  Os cavalos veem o mundo em tons pastéis, com pouca percepção de cores vibrantes. Sua visão panorâmica e a capacidade de detectar contrastes no ambiente são mais importantes para evitar predadores ou localizar caminhos seguros.

  4. Bovinos: Visão Adaptada à Pastagem

 - Anatomia e Células da Retina:  

  Os bovinos possuem dois tipos de cones, também sensíveis ao azul e ao amarelo, como cães e cavalos. Sua retina contém uma alta densidade de bastonetes, o que lhes proporciona boa visão em condições de pouca luz.

 - Fisiologia da Decodificação:  

  Bovinos processam cores de forma semelhante aos equinos, com dificuldade para distinguir entre vermelho e verde. Essa limitação não é prejudicial para suas atividades diárias, como identificar vegetação ou observar movimentos ao longe.

 - Resultado Visual:  

  O mundo para os bovinos é visualizado em tons apagados de azul e amarelo, com ênfase no contraste e na detecção de movimentos. Isso é suficiente para identificar alimentos e evitar predadores.

  

EspécieEspéciePercepção de CoresAdaptações Específicas
CãesAzul e amareloLimitada; vermelho e verde não distinguidosPercepção de movimento e contraste
GatosAzul e amareloLimitada; tons apagadosExcelente visão noturna e sensibilidade ao movimento
EquinosAzul e amareloTons pastéis; vermelho e verde ausentesCampo visual amplo para detectar predadores
BovinosAzul e amareloTons apagados, pouca distinção de coresVisão adequada para pastagens e proteção
 

Conclusão

As diferenças na visão de cores entre cães, gatos, equinos e bovinos refletem a evolução adaptativa de cada espécie em seus respectivos ambientes. Enquanto a percepção de cores é limitada, a sensibilidade à luz, ao contraste e ao movimento desempenha um papel crítico para a sobrevivência e o comportamento dessas espécies.

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