Fisiologia da Reprodução dos Machos

 

Fisiologia da Reprodução dos Machos Domésticos em Medicina Veterinária


A fisiologia da reprodução nos machos dos mamíferos domésticos é um tema essencial na medicina veterinária, sendo fundamental para o manejo reprodutivo eficiente e para a compreensão de patologias associadas. Este texto aborda de maneira didática e detalhada a fisiologia das gônadas, o impacto dos hormônios sexuais masculinos, os processos de espermatogênese e maturação dos gametas, bem como os efeitos hormonais no crescimento e amadurecimento sexual em diferentes espécies domésticas. Além disso, são discutidos os mecanismos do eixo hipotálamo-hipófise-testículo e os sistemas de feedback entre essas estruturas.

Fisiologia das Gônadas Masculinas

Os testículos são as gônadas masculinas, localizados na bolsa escrotal na maioria das espécies domésticas. Suas funções incluem:

  1. Produção de Gametas: A espermatogênese ocorre nos túbulos seminíferos.
  2. Secreção de Hormônios Sexuais: As células de Leydig produzem testosterona, que regula várias funções reprodutivas.

A estrutura interna dos testículos é composta por túbulos seminíferos e tecido intersticial. Os túbulos contêm as células germinativas em diferentes estágios de desenvolvimento e as células de Sertoli, que oferecem suporte estrutural e metabólico aos gametas.


Efeitos dos Hormônios Sexuais no Sistema Reprodutivo

Os hormônios sexuais masculinos, principalmente a testosterona, exercem ampla influência sobre o sistema reprodutivo e outras estruturas:

  1. Testosterona:

    • Promove o desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários.
    • Regula a espermatogênese e o comportamento sexual.
    • Atua no crescimento e desenvolvimento muscular.
  2. Dihidrotestosterona (DHT):

    • Mais potente que a testosterona, essencial para o desenvolvimento da próstata e das glândulas anexas.
  3. Estradiol:

    • Derivado da aromatização da testosterona, exerce efeitos moduladores no eixo hipotálamo-hipófise e no sistema nervoso central.

Espermatogênese e Maturação dos Gametas

A espermatogênese é o processo de formação dos espermatozoides, dividido em três fases principais:

  1. Fase Mitótica: As células-tronco espermatogoniais se dividem por mitose, gerando células precursoras.
  2. Fase Meótica: Os espermatócitos primários sofrem meiose, reduzindo o número cromossômico pela metade e formando espermátides.
  3. Fase de Diferenciação (Espermiogênese): As espermátides se diferenciam em espermatozoides maduros, com forma alongada, flagelo e capacidade de mobilidade.

A maturação ocorre no epidídimo, onde os espermatozoides ganham mobilidade e capacidade de fertilização. O transporte posterior até a uretra é mediado pelos ductos deferentes e glândulas acessórias.

Efeitos Hormonais no Crescimento e Maturidade Sexual

Os hormônios sexuais influenciam diretamente o desenvolvimento puberal e a aquisição da capacidade reprodutiva:

  1. Bovinos:

    • Testosterona promove o crescimento muscular e a deposição de massa corporal.
    • O amadurecimento sexual ocorre por volta dos 12-15 meses em raças zebuínas.
  2. Equinos:

    • A testosterona regula o comportamento sexual e a produção espermática, com maturidade sexual por volta dos 18 meses.
  3. Porcos:

    • Os machos alcançam a puberdade entre 5 e 7 meses, com alta produção de espermatozoides devido ao elevado volume testicular.
  4. Bodes e Carneiros:

    • A sazonabilidade afeta o desempenho reprodutivo; os hormônios influenciam a qualidade do sê-men em estações específicas.
  5. Cães e Gatos:

    • A maturidade sexual ocorre entre 6 e 12 meses, sendo influenciada por raça e tamanho.

Eixo Hipotálamo-Hipófise-Testículo

O eixo reprodutivo masculino regula a função testicular no Eixo Hipotálamo-Hipófise-Testículo:

  1. Hipotálamo:

    • Produz GnRH (hormônio liberador de gonadotrofinas), que estimula a hipófise anterior.
  2. Hipófise Anterior:

    • Secreta FSH (hormônio folículo-estimulante) e LH (hormônio luteinizante).
    • FSH atua nas células de Sertoli, promovendo a espermatogênese.
    • LH estimula as células de Leydig para produzir testosterona.
  3. Testículos:

    • A testosterona retroalimenta o eixo, exercendo feedback negativo.

Feedback Testículos/Hipotálamo/Hipófise

Os testículos regulam o eixo reprodutivo por meio de feedback hormonal do Eixo Hipotálamo-Hipófise.

  1. Feedback Negativo:

    • A testosterona inibe a secreção de GnRH e LH.
    • A inibina, secretada pelas células de Sertoli, reduz os níveis de FSH.
  2. Feedback Positivo:

    • Em situações de necessidade de aumento reprodutivo, o eixo ajusta a produção hormonal.

Glossário Técnico

  1. GnRH: Hormônio liberador de gonadotrofinas, regula a secreção de FSH e LH.
  1. FSH: Hormônio folículo-estimulante, essencial para a espermatogênese.
  1. LH: Hormônio luteinizante, estimula a produção de testosterona.
  1. Células de Sertoli: Suporte metabólico para células germinativas durante a espermatogênese.
  1. Células de Leydig: Localizadas no tecido intersticial, responsáveis pela produção de testosterona.
  1. Espermatogênese: Processo de formação dos espermatozoides nos túbulos seminíferos.
  1. Epidídimo: Estrutura onde ocorre a maturação final dos espermatozoides.
  1. Testosterona: Principal hormônio sexual masculino, regula o desenvolvimento e a função reprodutiva.
  1. DHT (Dihidrotestosterona): Derivado mais potente da testosterona, essencial para características sexuais específicas.
  1. Feedback Negativo: Processo pelo qual altos níveis de hormônios inibem a secreção de outros hormônios.

Estudo Dirigido

  1. Quais são as principais funções dos testículos?

  2. Qual é o papel das células de Leydig?

  3. O que é a espermatogênese?

  4. Quais hormônios são secretados pela hipófise anterior no eixo reprodutivo masculino?

  5. Como ocorre o feedback negativo no eixo hipotálamo-hipófise-testículo?

  6. Qual é o papel do epidídimo?

  7. Quais são os efeitos da testosterona no comportamento sexual?

  8. Qual é a diferença entre testosterona e DHT?

  9. Como o FSH atua nos testículos?

  10. Qual é o impacto da sazonalidade em bodes e carneiros?

Acesse aqui o Gabarito

Estudos de Caso

Caso 1: Azoospermia em Equinos

Descrição do Caso

Um garanhão de cinco anos foi encaminhado ao hospital veterinário especializado em reprodução devido à infertilidade persistente. O proprietário relatou que, apesar de o garanhão demonstrar comportamento sexual normal e cobertura eficiente, as éguas cobertas por ele não estavam prenhes após várias tentativas.

Histórico do Animal

  • Idade: 5 anos.
  • Condições gerais: Animal saudável, sem histórico de doenças sistêmicas recentes.
  • Reprodução: Realizou coberturas naturais com múltiplas éguas, sem sucesso reprodutivo.
  • Manejo: Criado em sistema extensivo, com suplementação alimentar e exames periódicos básicos.

Exame Clínico

Durante o exame físico e reprodutivo, os testículos apresentavam-se normais em tamanho, consistência e mobilidade. Não foram detectadas assimetrias ou sinais de dor à palpação. O exame do epidídimo não revelou alterações aparentes.

Exames Complementares

  1. Avaliação do sê-men:

    • Volume e aspecto do ejaculado normais.
    • Ausência total de espermatozoides no sê-men (azoospermia).
    • Presença de células epiteliais e resíduos orgânicos no fluido seminal.
  2. Dosagem hormonal:

    • Testosterona em níveis normais, descartando hipogonadismo.
    • LH e FSH compatíveis com a faixa etária e funcionalidade testicular.
  3. Biópsia testicular:

    • Amostras revelaram espermatogênese normal nos túbulos seminíferos, descartando causas intrínsecas aos testículos.
  4. Ultrassonografia do trato reprodutivo:

    • Identificou um espessamento focal no ducto deferente, sugerindo uma obstrução parcial do trato reprodutivo.

Diagnóstico

Foi diagnosticada azoospermia obstrutiva, causada por um bloqueio no ducto deferente. Isso impedia a passagem dos espermatozoides, apesar da produção normal pelos testículos.

Tratamento e Manejo

  1. Cirurgia Reprodutiva:

    • Foi realizada uma vasovasostomia, técnica cirúrgica para remoção do segmento obstruído e reconexão do ducto deferente.
  2. Terapia Pós-Operatória:

    • Antibióticos para prevenir infecções.
    • Anti-inflamatórios para minimizar reações locais e edema.
  3. Monitoramento Reprodutivo:

    • Avaliação mensal do sê-men para acompanhar a presença de espermatozoides.
    • Avaliação comportamental para garantir a manutenção do interesse sexual.

Prognóstico

Após três meses, o animal apresentou melhora significativa na qualidade seminal, com retorno progressivo da fertilidade. As éguas cobertas começaram a apresentar diagnóstico de prenhez.

Caso 2: Epididimite Infecciosa por Brucelose em Touros

Estudo de Caso: Epididimite Infecciosa por Brucelose em Touros

Descrição do Caso
Um touro de quatro anos foi encaminhado à clínica veterinária apresentando aumento unilateral do epidídimo, dor à palpação e diminuição no desempenho reprodutivo observado nos últimos meses. O histórico do animal revelou exposição a outras fêmeas e machos em pastagem coletiva, sem controle sanitário rigoroso. Ao exame clínico, além do aumento epididimário, notou-se sensibilidade local e presença de testículo de consistência alterada no lado afetado.

Exames laboratoriais foram realizados, incluindo sorologia para Brucella abortus, com resultado positivo. O sê-men foi coletado para avaliação e revelou baixa motilidade espermática e presença de células inflamatórias. Um ultrassom do aparelho reprodutor confirmou alterações características de epididimite.

Abordagem Terapêutica e Manejo
O tratamento envolveu:

  1. Isolamento do animal: Para evitar a disseminação da doença em outros animais.
  2. Antibióticos específicos: Embora a Brucelose seja uma zoonose de difícil controle, foi instituída uma terapia antimicrobiana para controle temporário.
  3. Medidas de biossegurança: Incluindo testes em outros animais do rebanho, vacinação dos sadios e descarte sanitário de animais positivos.

Discussão
A Brucelose é uma zoonose de notificação obrigatória, sendo essencial o controle rigoroso para evitar surtos no rebanho e riscos à saúde pública. No caso, o diagnóstico precoce e a implementação de medidas de controle evitaram maior disseminação.

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